domingo, 18 de outubro de 2009

Festival de Roma tenta recuperar forças após crise


A projeção de The imaginarium of Doctor Parnassus, de Terry Gilliam, no último sábado (17), dentro da programa de eventos especiais da quarta edição do Festival de Roma, tem um significado muito particular para a jornalista Piera Detassis, nova diretora artística da maratona italiana. Ao aceitar o posto em fevereiro passado, depois desavenças políticas que ameaçaram a continuidade do festival, Piera se comprometeu a reformular o evento, que termina dia 23, reforçando seu caráter internacional e, principalmente, aproximando-o da população.

Parte de uma homenagem póstuma ao ator Heath Ledger, que morreu em janeiro do ano passado, antes de concluir sua participação no filme de Gilliam, a exibição de The imaginarium of Dr. Parnassus contou com a presença de seu diretor.

"Para nós, que somos um festival muito novo ainda, a audiência é muito importante. Já tínhamos o Prêmio do Público, mas estamos nos programando para nos abrirmos mais para a população. Claro que gostamos da ideia da cerimônia do tapete vermelho, que traz mais visibilidade na mídia para o festival. Mas queremos que as estrelas não venham apenas para o tapete: as convidamos para encontrem com o povo", diz Piera, entre uma garfada e outra de uma salada verde do restaurante do hotel Excelsior, durante o último Festival de Veneza.

Depois de três anos tentando encontrar seu lugar no calendário de festivais internacionais, Roma parece seriamente determinada a construir um perfil próprio. Aos poucos, desavenças internas, conflitos de interesses e rivalidades vão sendo deixados para trás. Um desses obstáculos era o Festival de Veneza, o mais antigo do planeta, em torno do qual costuma orbitar os principais lançamentos americanos do segundo semestre do ano ¿ e com eles, seus astros. Como editora da Ciak, uma das mais populares revistas sobre cinema na Itália, que durante sete anos ganhou uma edição diária dentro da mostra veneziana, Piera tinha plena consciência de que não poderia competir com as mesmas armas.

"Veneza e Roma são cidades muito diferentes e, portanto, abrigam festivais igualmente distintos. Roma é uma cidade mais amistosa e nosso festival quer incorporar essa característica. Não podemos competir com o luxo veneziano, em compensação oferecemos um ambiente mais cordial", admite Piera, que até ano passado era curadora das premières da maratona romana.

"Queremos manter o prefixo festa da palavra festival, sem comprometer a seriedade cinematográfica. A indicação do crítico de cinema de Gian Luigi Rondi para o cargo de presidente da mostra tem a ver com a busca por esse equilíbrio".

A maior ameaça, no entanto, já passou. Quando Gianni Alemanno assumiu a prefeitura de Roma, no ano passado - substituindo Walter Veltroni, cinéfilo assumido e um dos entusiastas do evento - não escondeu sua má vontade em relação à mostra. Para salvá-la de boicotes, o então presidente do festival, Goffredo Bettini, rival político de Alemanno, deixou o cargo. O orçamento para a edição 2009 ficou mais enxuto, em torno dos US$ 17,7 milhões (em 2007 chegou a US$ 23 milhões) mas a tensão já não existe mais.

"O pior momento foi ano passado, quando estivemos no meio de uma tempestade política. Tanto a direita quanto a esquerda do governo estavam contra nós, o que não era uma posição muito agradável", brinca Piera, que para este ano programou uma homenagem ao diretor Sergio Leoni (1929-1989), uma retrospectiva do popular diretor italiano Luigi Trampa e articulou a première de Lua nova, sequência do hit juvenil Crepúsculo, atração do festival no ano passado. "Meu primeiro passo foi cortar excessos e montar uma equipe coesa, com gente jovem também. Antes, tínhamos seis diretores, o que significa muito dinheiro gasto, o que não é desejável se você procura apoio político".

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